
Na Masmorra do Fausto - Coluna semanal no portal iGay.
Fetichismo, BDSM e saúde psíquica: como é essa relação?
Uma das questões mais polêmicas, que gera dúvidas, receios e preconceito contra o fetichismo e o BDSM , é a sua relação com a saúde psíquica. Para muitas pessoas, as práticas fetichistas em geral estão envoltas em mistério, medo e desconhecimento. A falta de informações precisas e o tabu que envolvem o tema faz com que todo e qualquer fetiche seja visto por muitos como doença ou desvio.
O Código Internacional de Doenças (CID) infelizmente ainda considera fetichismo e BDSM um transtorno psíquico, mas isso provavelmente está prestes a mudar nos próximos anos. Países escandinavos aboliram tais práticas do CID, uma vez que compreenderam que a existência humana e sua elaboração psíquica da erotização, pode variar e pode assumir múltiplas formas. Existe hoje uma ampla discussão na comunidade científica internacional para a abolição de tais práticas do CID. Sendo assim, o tema deve ser encarado como uma questão de diversidade , não de desvio.
Vale a pena lembrar aqui, que até início dos anos 80, homossexualidade era considerada doença, desvio e transtorno psíquico pelo CID de doenças.
Por que fetichismo seria erroneamente associado a um desvio?
A resposta para a questão acima é simples: nas práticas eróticas fetichistas, existe um relativo deslocamento da libido para a estética presente nas roupas, acessórios e jogos de sedução.
Geralmente uma relação sexual se inicia com certo grau de tensão psicológica necessária ao casal para a consumação do ato. Essa tensão, erotização, pode ser compreendida como uma dança do acasalamento envolta por produção visual, acessórios, embelezamento, perfumes, olhares e palavras. Essa tensão possui um período de duração até que o ato sexual aconteça.
No caso do BDSM e do fetichismo, o que acontece é que essa tensão é envolvida de forma mais ostensiva por estética e acessórios, os jogos de sedução duram mais tempo, muitas vezes não sendo necessário o ato sexual em si. Simples assim.
BDSM não é violência doméstica nem tortura, e para que tal prática possa ser considerada como tal deve estar dentro dos parâmetros do SSC (são, seguro e consensual) devendo ser combinada uma palavra de segurança pelo casal, caso um dos dois decida parar a sessão.
Importante lembrarmos também, que um ato só pode ser considerado doença quando agride e causa algum dano físico, psíquico ou laboral a alguém, ou à própria pessoa praticante.
Um indivíduo precisa ser íntegro para que tenha saúde psíquica. Todo ser humano tem um maior ou menor grau de fantasias eróticas. O fetichismo faz parte da psique humana e um indivíduo só se torna pleno e íntegro quando exerce a sua individualidade, elabora e sublima os seus desejos de forma saudável e responsável.
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